A Luta
Primeiro round
Preso as cordas sou alvejado
Jabs, diretos, ganchos
Golpe após golpe
Mantenho a guarda alta
Resisto, Insisto, Persisto
Mas a adversária é forte
Teus punhos pesados
Um cruzado rompe minha guarda
E atinge meu rosto
Beijo a lona
Ouço a contagem
Não posso vencer
Mas me levanto
E sangrando a encaro
Ela sorri
A vida sorri
E cerrando os punhos
Volta a atacar
Quinto round
Sétima vez que caio
Sétima vez que me ponho de pé
Não aceito a derrota
Mesmo sendo inevitável
A cada vez que levanto
A platéia chia
Me ofende
Me xinga
Me finjo de surdo
Sou alheio a ela
Naquele lugar
Dentro daquele ringue
Só estamos nós dois
Só existimos nós dois
Sem apoio, sem juízes, sem regras
Somos apenas nós
Um novo golpe
Caio outra vez
Décimo round
A luta está no fim
O branco do ringue
De rubro manchado
Ergo a cabeça
E fito teus olhos
Que brilham em vermelho
Excitados pelo prazer
De cada soco
Cada ataque
Meu sangue jorra
Mas permaneço de pé
Teimo em prosseguir
Ela não me derruba mais
Aprendo a apanhar
Começo a bater
Décimo segundo round
Último round
Ela agora está nas cordas
A platéia em silêncio
Agora é meu momento
Desfiro golpes
Dez, Cem, Mil
Apenas continuo batendo
Sem descanso, ou técnica, ou talento
Só com a força de meus braços
Eu a sujo com meu sangue
A sujo com meu suor
Eu continuo batendo
Apenas continuo batendo
O sino toca, a luta acaba
E ali permaneço
Então vou ao chão
Derrotado
Minha adversária me observa
Sem nada dizer
Ela não comemora
A vida venceu
Mas a vitória é minha