ESTUÁRIO
E coube aos olhos
um tanto de ferrugem
Carcuma, laranja-amarelada
que lhes dava a sensação
d’um novo amanhecer
Enquanto, toda noite era vazio
E coube aos olhos
um tanto preto no branco
Imagens em fractais
Miragem de primavera
Enquanto, todo silêncio era açoite
E coube aos lábios
Um tanto de maresia
Um tanto de vagas mortas
palavras sem sentido
azul-avermelhadas
onde, nem um, marulhar se ouvia
E coube aos braços
ser estuário
Do sal marinho
Da doçura do mascavo
Da dor em terracota
Das fagulhas, dos desejos
Do amor colorido e da alvura
de todas as quimeras
Neste abraço; que consolida
todas as letras
Um encontro etéreo
entre o que é terno e a eternidade
Tal qual rio-pensamento que deságua
na imensidão deste mar-alma