ESTUÁRIO

E coube aos olhos

um tanto de ferrugem

Carcuma, laranja-amarelada

que lhes dava a sensação

d’um novo amanhecer

Enquanto, toda noite era vazio

E coube aos olhos

um tanto preto no branco

Imagens em fractais

Miragem de primavera

Enquanto, todo silêncio era açoite

E coube aos lábios

Um tanto de maresia

Um tanto de vagas mortas

palavras sem sentido

azul-avermelhadas

onde, nem um, marulhar se ouvia

E coube aos braços

ser estuário

Do sal marinho

Da doçura do mascavo

Da dor em terracota

Das fagulhas, dos desejos

Do amor colorido e da alvura

de todas as quimeras

Neste abraço; que consolida

todas as letras

Um encontro etéreo

entre o que é terno e a eternidade

Tal qual rio-pensamento que deságua

na imensidão deste mar-alma

Kellen Cristine
Enviado por Kellen Cristine em 25/11/2015
Reeditado em 26/03/2017
Código do texto: T5461097
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.