O Discurso

O discurso ao longe se recolhe

Exaspera-se de tanta tristeza retida

Retirada de tanta angustia amargurada

E rentem-se nas ruínas dos gemidos

Abafados, acorrentados, inibidos

Tudo absorvido pela carne ensanguentada

Na garganta que segura em brasa

o ímpeto das palavras

Num repente uma delas liberta-se

Distancia-se da corrente e desliza nas entranhas

E a boca decassílaba torna-a voz

Fala-se o discurso temido

Numa boca tremula e tépida

A voz agora é do homem morto

Quem escuta aponta, quem protege corre

E os que normatizam caçam-no com suas togas

O discurso falado, melhor ter-se-ia bafejado

escondido num suspiro, numa tosse arranjada

numa fala açodada, sucedânea

Mas o desejo da fala esbravejada timidamente

Conquistou-o corpo em mente

Como se cada silaba de heresia foste o balsamo

Que um dia se repousaria

Protestando sua dor, calçou as botas do desaparecimento

E fez-se em historia seu lamento

Na égide de um quem escutou

Tornou-se olvido, em forma restante

E transpassou de um a um

o tempo dos errantes caminhantes

da tela do esquecido

Fez-se palavra concreta na forma de livros

Redigiram-se a letras aqueles gemidos

Fizeram-se versos dos tímidos suspiros

Calou-se a voz, mas ergueu-se o dito.

Victor Leonardo
Enviado por Victor Leonardo em 20/04/2016
Reeditado em 05/02/2017
Código do texto: T5611053
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