Psicografia nº 4, em tom de apelo - Sou um poeta falido
Minha mãe, sinto em dizer que sou um poeta falido
Em mente,
Corpo,
Sentimento,
Inclusive, vocabulário.
Ninguém capta minha emoção,
Minha mãe.
A emoção não irradia,
Nem escorre -
A emoção parece que evapora.
Não há mais nada em mim para se transcrever,
Não há mais nada em mim
Para se tocar,
Para se sentir,
Para se rebuscar.
É tão melancólico fazer parte desse sumiço,
Desse rebôo.
O que me vem é que
Sou inalcançável.
O brilho das estrelas perdeu-se em mim.
Eu digeri
A lua,
Faminto,
Exagerado.
Minha mãe, sinto em dizer que sou um poeta [falido].
Me sinta,
Me alcance,
Que é para eu não me sentir tão diferente.
Que é para eu me sentir,
Que é para eu me captar.
Pois ninguém mais consegue me alcançar:
Me alcance.
Não há mais nada.
As revoluções foram sufocadas,
A primavera passou,
O canto silenciou,
A voz sufocou,
A pedra caiu,
Eu entrei no vazio.
Minha mãe, me ajude a ser poeta mais uma vez
Porque ser poeta é ser alguma coisa
Além do que eu sou,
E sozinho eu não sou.
Sozinho eu só consigo ser eu mesmo.
Sem calor,
Sem fervor.
Eu só consigo ser eu mesmo,
Pedra bruta,
Sem brilho,
E não consigo fazer a poesia funcionar.
Não consigo ver o mundo girar,
Não consigo me alegrar,
Ao ver o despertar
Da manhã.
Ser poeta não nasceu comigo,
E eu me perdi em tentativas.
Eu me perdi na minha essência pastosa,
Crua,
Verde,
Fria e silenciosa,
Que passa com dificuldade.
Eu me perdi num macaréu de emoções
Que não suportei,
Que não suporto -
Eu não consigo mais dizer o quão diluída e apagada é minha tez.
Minha mãe, me ajude a ser poeta mais uma vez.