Psicografia nº 4, em tom de apelo - Sou um poeta falido

Minha mãe, sinto em dizer que sou um poeta falido

Em mente,

Corpo,

Sentimento,

Inclusive, vocabulário.

Ninguém capta minha emoção,

Minha mãe.

A emoção não irradia,

Nem escorre -

A emoção parece que evapora.

Não há mais nada em mim para se transcrever,

Não há mais nada em mim

Para se tocar,

Para se sentir,

Para se rebuscar.

É tão melancólico fazer parte desse sumiço,

Desse rebôo.

O que me vem é que

Sou inalcançável.

O brilho das estrelas perdeu-se em mim.

Eu digeri

A lua,

Faminto,

Exagerado.

Minha mãe, sinto em dizer que sou um poeta [falido].

Me sinta,

Me alcance,

Que é para eu não me sentir tão diferente.

Que é para eu me sentir,

Que é para eu me captar.

Pois ninguém mais consegue me alcançar:

Me alcance.

Não há mais nada.

As revoluções foram sufocadas,

A primavera passou,

O canto silenciou,

A voz sufocou,

A pedra caiu,

Eu entrei no vazio.

Minha mãe, me ajude a ser poeta mais uma vez

Porque ser poeta é ser alguma coisa

Além do que eu sou,

E sozinho eu não sou.

Sozinho eu só consigo ser eu mesmo.

Sem calor,

Sem fervor.

Eu só consigo ser eu mesmo,

Pedra bruta,

Sem brilho,

E não consigo fazer a poesia funcionar.

Não consigo ver o mundo girar,

Não consigo me alegrar,

Ao ver o despertar

Da manhã.

Ser poeta não nasceu comigo,

E eu me perdi em tentativas.

Eu me perdi na minha essência pastosa,

Crua,

Verde,

Fria e silenciosa,

Que passa com dificuldade.

Eu me perdi num macaréu de emoções

Que não suportei,

Que não suporto -

Eu não consigo mais dizer o quão diluída e apagada é minha tez.

Minha mãe, me ajude a ser poeta mais uma vez.

Rosiel Mendonça
Enviado por Rosiel Mendonça em 06/08/2007
Reeditado em 07/08/2007
Código do texto: T595994
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