Nuvens de algodão

Eu estive voando, ouvindo,

posso dizer que estive aprendendo;

viajei pelos céus azuis, nas alvas nuvens,

vendo o mundo de cima;

sorrindo, eu vi as florestas e os rios,

vi as fazendas e as cidades de luz à noite,

sempre de braços abertos, voando,

mas também vi os canhões, vi os fuzis,

vi as vilas destruídas, vi a pobreza e a fome,

de lá de cima, das nuvens de algodão,

e fiquei triste, senti-me fraco e impotente.

Deitei-me, ainda voando, e olhei para cima,

para as estrelas e galáxias,

estendendo-se ao infinito desconhecido,

e olhei mais e mais fundo,

e vi os sóis nascendo e morrendo,

vi chuvas de diamantes e rios d’ouro,

a luz e a escuridão plena,

e senti-me só, desfalecido,

fraco frente à magnitude e imensidão

as quais não sou capaz de compreender,

afinal, o medo machuca e nos transforma;

porém, ainda fraco, decidi olhar mais,

e olhei para Deus e seus anjos,

Shiva, Tupã e Olorun,

e, ainda, senti-me só,

afinal, em um mundo tão imenso, quem sou eu?

Além de mais uma mera estatística?

Mais um na fila do pão, mais um para pagar os impostos?

Eis que em meu pranto ouço uma voz,

“Olhe mais para baixo” , diz ela.

Virei-me para a Terra mais uma vez,

olhei com com curiosidade,

vi uma mulher limpando o tapete,

um homem lavando as louças,

um casal de mãos dadas em uma praça,

sorri, felicitei-me como uma criança,

afinal, quanta graça recai sobre mim?

Mergulhei para o chão, fiquei de pé,

afinal, as melhores coisas estão a meu alcance.