EVOLUÇÃO

Ele corria entre a mata virgem fugindo de seus fantasmas,

Que entre os pelos, a boca e seus dentes brancos estavam famintos,

Um descuido e o branco estaria maculado pelo vermelho e a dor,

Seu suor escorria, sentia-se o cheiro do medo.

Um outro ele estava aprisionado em um quarto sem janelas,

No subterrâneo de um lugar qualquer, por baixo da porta uma água fria ia entrando,

Ele que já estava rouco, gritava por salvação, mas ninguém o ouvia,

Enquanto seu corpo submergia, contagem regressiva para seu último suspiro.

Ambos faziam uma última oração,

Para que o dono do universo mudasse aquela sorte,

Ou amenizasse a dor para o descanso eterno,

Um corria e o outro estava preso.

São eles os que passam por nós pelas ruas,

Em suas lutas caladas,

Cada um em sua história,

Cada um em sua dor.

Eles, o que corre e o que tenta se libertar,

Esperavam que um anjo descesse com a solução,

Mas nem sempre é assim, ele que corria viu uma casa para se esconder,

E lá de dentro ouviu os gritos.

Desceu as escadas molhadas e mergulhou,

Desprendeu as amarras da porta,

E então o que estava preso libertou,

E já não estavam sozinhos, já não corriam perigo.

Ainda traumatizados, sentaram para conversar,

E resolveram juntos seguir, pelo incerto caminho,

Em uma floresta, sem mapa,

Sem saber ao certo o norte e o sul.

São eles os que passam por nós pelas ruas,

E já não estão desacompanhados,

Eles pensam que o futuro é palco de incertezas,

Mas naquela rua ninguém tinha convicção.

Alguns ainda estão em perigo,

Outros seguem seu rumo,

Mas nunca teremos certeza de nada,

Porque o amanhã é um mistério que nos aguarda.

E no caminho eles aprenderam que não podiam ter tudo,

Pois uma escolha sempre exigia uma renúncia,

E isso a vida nos determinou exatamente para que não percamos,

O valor das escolhas e de cada decisão.

A vida é como quem compra uma casa que tem um quintal,

Aos que decidirem cimentar tudo para o mato não crescer,

Evitarão o trabalho, mas nunca terão uma rosa para cheirar,

E aos que deixaram a terra, terão que da rosa cuidar para ela florescer.

Ao que corria e conseguiu fugir, amanhã poderá ter que correr mais,

Ao que do quarto fora libertado, amanhã poderá encontrar uma outra prisão,

Nada está protegido do amanhã, mas a aprendizado do ontem valerá,

E se formos abençoados em uma união, se um cair, o outro o levantará.

Ninguém é tão abençoado que não encontrará dificuldades,

E ninguém é tão maldito que seu sonho não alcançará.

O ontem, nosso aprendizado, ao hoje, nossa percepção,

Ao amanhã, algo melhor do que fomos hoje, e assim alcançaremos nossa graça na evolução.