É a vida que nos abate

Vi feitiços cometidos à loucura perdida

Quando me arrastei num rasto de ciúme

Conseguindo da vida o que me deu a vida pretendida

Quando sem nada pedir, pedi o golpe e o gume

Levantei-me ao soar das grilhetas

Como condenado à vida eterna

Vivi assim, preso à vontade das ampulhetas

Do que restava dos restos desta vida alterna

Pedi sequelas às consequências que ataviei

Levando-me a acreditar nos ímpetos e no mote

Fiz de mim alguém com a ganância ao que sonhei

Pensar na vida como se a vida fosse sorte

Lembrar-me-ei de me ajuizar quanto vir o fim

No sereno de um amanhã que nunca chegará

Será um momento de inveja à vida que enfim

Morrerá com o sabor de quem partiu não tornará

Mas a vida não é devaneio nem suplício

Porquanto por ser escassa é rude e mãe

Vive-nos e dá-nos a força e o artifício

Para com a astúcia e vontade não sermos dela refém

Como a hora que parte o tempo que partiu

A vida passa cantarolando desapegada em arrebate

Porque foi ela que a vida possuiu

Por ser a que nos dá a vida e por ser a que nos abate

Teófilo Velho
Enviado por Teófilo Velho em 31/08/2007
Código do texto: T632454
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