Sobrevivência
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Vou tentando decifrar
o ser que se mascara de mim
enquanto transeunte da vida,
no mesmo estilo de, uma vez
e de veras aflito,
ter aprendido, sozinho,
a nadar numa margem
do rio Liz.
Por essa mesma lógica,
já deu para entender que,
ao longo da existência,
vou sobrevivendo,
a um tempo
deixando-me afundar
para, no tempo seguinte,
e ao bater no fundo,
me projectar, ascendente,
pela vontade de emergir
mais perto da salvação
de uma margem próxima.
Normalmente
esse ciclo de sobrevivência
como tantos rituais
tem de ser repetido,
sucessivamente,
pondo-se de parte o luxo
de deslembrar o obvio
de encher os pulmões de ar
cada vez que, ao menos,
se alcança a superfície.
...
É bem no fim deste processo
que se reformulam
os meus silêncios
num interlúdio ao caos
num contraponto urgente
ao vociferar das multidões.
Isso mesmo!,
o silêncio em contraponto
pois que na minha vez,
em vez de falar, eu calo
por não conseguir escutar
o meu ponto.
(Vide palco, cena, teatro)
Como remanescencia
a imensa estranhidade
ao sentir
que já não me falta tudo.
Ou faltará?
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_____________________LuMe
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