Hégira
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Às vezes
sem quase reparar
não consigo dar-me conta
do rosto exacto
com que sou visto.
E, sem ter de entender
não me ralo
que é um outro jeito
de pasmar
bem lá no fundo
no lugar onde ninguém
se fica a rir
de ninguém.
...Mais que fazer!
Fico-me na ideia
que lá no tal fundo
deve ser tudo muito sério.
Seja como for, hoje,
nada disto me afecta.
Apetece-me rir com o sol
e repensar
o que sou de um cristal
mas tosco, muito tosco,
talvez do tanto querer
tanta luz.
Pode não parecer
mas congemino um acto;
legítimo, como convém,
e, todavia, de terrorismo.
Um fazer justiça
ou ajuste de contas
com um rótulo
em que se adverte sobre
"Matéria apocalíptica".
Num determinado firmamento,
planando, eu planeio
a primeira (1ª) fase
de um desvario
na licitude mera e plena
de me cuidar
conjuradamente vivo.
No plano da aparência,
talvez não deixe de ser,
só o abrir de tudo
quanto é gaiola;
...só o destrancar
de toda e cada jaula;
...só a vontade extrema
no acto de desmantelar
tudo o que é cárcere
incluindo, permita - se - me
a partir do meu.
Trémula, a minha mão
escreve no papel
quase que a dilacerá-lo
como de lancetar o longo
de todas as paredes
com o meu apelo
"ABAIXO O HOMUNCULÁRIO"
mais, com certeza,
todo e qualquer bichanário
(valha-nos Deus!)
avestruzário, aviário,
sei lá eu!,
mas claro que mais,
todos, mas todos,
os viveiros sociais
da hibridez vívida
e da vivenciável.
Nos confins da remanescência
de uma raça, quiçá, humana,
eu vivo apóstata
de uma massa de criaturas
na qual não entendo vida.
Na margem proscrita
das minhas gentes
teimo em crescer
na ideia de alindar a alma
e amar desbragadamente
cada indício de estar vivo.
Por aqui me escapo
para a minha infinidade
de eternos primeiros momentos
pela mais ancestral
das jornadas.
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______________________LuMe
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