Mal haja

A voz…

Que o mal condena

Arromba na felicidade

Pelos dias que nos acossa!

E é tão difícil

Encontrar por querer

A ventura

Que não nos surge

Quando a tristeza daninha

Eclode sem que para tal

Tenha sido protegida.

O mal;

É o tributo que se tem de remir

Sempre que temos

Um momento de felicidade…

Aparenta uma troca,

Ocorre, brota…

E com ele,

Não conseguiremos nunca

Viver mesmo ténues em deleite agrado.

Fica o juízo forçado

Que algo nos irá cobrar

Por termos sorrido,

Para após…

Termos mais momentos

Tingidos pela vontade em chorar

Quando ávidos desejamos brindar,

Resplender,

E acreditar que existe o belo;

A tristeza lembra-nos sempre

Que tem um peso maior!

É uma caravela afoita

Às vagas e às tormentas

Esperando por nós em cada cais

Para nos arremessar

Os seus dedos em esqueleto

E pedir-nos tudo o que temos.

Tanta vez me tenho interpelado,

Se temos de pagar tanto

Por tanto mal,

E se a vida de facto

É um manto que nos cobre de mágoa,

De cinzento,

Ou é apenas a ilusão da palavra revés

Que nos atingiu

No instante do nosso orto.

De tudo tenho ensaiado:

Abstracção;

Descrença;

Afastamento;

Disputado mesmo o irreal

Não julgando, nem exigindo acreditar,

Que a tristeza

Existe tão matemática

Para que possa

Ser sempre ditada…

Quando a felicidade nos abraça;

Pressinto…

Com a dúvida que fica,

Que um sorriso

Tem de ser vingado

Com o verter de uma lágrima

Porque logo após, a “fortuna” me faz condoer.

Que nostalgia

Da inconsciência de catraio

Onde os sucessos aconteciam na mesma,

Mas sem os perceber!

Olho agora pela janela

E vejo um dia a brotar

Num sol tímido a despontar

Por entre uma impenetrável nuvem,

E questiono-me: - como vai ser o meu dia?

Começando por crer

Que posso ser feliz

Já que vou encetar tudo de novo

Consumindo mais um aos meus

Arriscando esconder

A felicidade que possuo em mim.

Quero despontar em flor;

Memórias,

E não negrume…

E não sei,

Se lhe consigo fazer frente!

Sempre que tento ignorar a desdita,

Um dedo apontado me assoma

Como que a cobrar

O desperdício de um sorriso

Mal haja

A esta rota!

Mal haja

A todo o mal!

E pouco dele compreendo

Pois é difícil assumir

Este imposto

Porque os homens deviam nascer

Para encantarem

E para serem felizes…

Mal haja,

Ao fantoche da plangência!

Que nos cobra

Com a sua argúcia…

Mal haja

À tristeza

Que só espero…

Seja mais triste do que nós…

Teófilo Velho
Enviado por Teófilo Velho em 06/09/2007
Código do texto: T641403
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