Sementes

Se fosse uma semente

Seria uma vida!

Se fosse sémen lançado à sorte

Seria um potencial da vida!

Germinaria como tudo o que a terra tem,

Lançaria raízes,

Beberia a sua fonte,

E alimentar-me-ia

Da Pátria,

Como princípio.

As origens

Se porfiassem crescer

Intentariam compor da semente

Uma essência digna

Elevando-a para além da terra

Fazendo-a procriar

Na planície dos homens

As árvores dos seus pactos,

E fazer de cada folha sabedoria.

Com o tempo

As folhas cederiam a outras,

E mais outras…

Tornar-se-iam imaturas

Frondosas

Dançariam com o vento

Lutariam com as tempestades,

E no Inverno,

Despedaçar-se-iam…

Em tons de áureo

Numa despedida de primavera

A árvore subjugar-se-ia

Continuar-se-ia a converter,

E a estar,

Como a semente

Que a brotou

E que a concebeu

Como fruto

E auge da poesia.

Pelo melhor que a terra

Nos pode dar

O fruto é o fim

No último degrau da beleza.

Todavia, através dele,

Ainda nos podemos atear

Voltando a criar vida

Instruindo outras árvores,

Num outro ser,

Avivando outra presença

No nós das suas frondes

Onde os seus ramos

E as suas raízes

Designariam poder,

Denotando apogeu,

E intimariam a perfeição

No que a desordem tem para nos infligir.

Nós somos a semente

E cada homem é uma árvore

Nesta floresta imensa

De tantos os que criam nações

No entanto,

Muitos dos frutos são perigosos,

Venéficos,

E não podem ser tragados

Por não serem potencial

Mas reduto de extinção

Numa simulação de fim…

Mas o poeta

Quer fazer dos mastros

A intenção

Para em nome da pujança

Poder junto de todos os poemas

Cantá-los e desejá-los

Como poeta que das estirpes

Fez da paixão a escrita

E das palavras

A árvore

Foi ele,

Que através dos ramos dos sentidos

Conseguiu encaminhar a mensagem

E fazer das estrofes

Um abraço ao coração dos homens

Para poder fugir à mentira,

E aleitar,

Um som pelas palavras proferidas

De verdade única

E íntegra pelos frutos

Que proliferámos

Para suster uma cadeia de prazer e satisfação.

É na verdade

No ventre por entre as folhas

Que os poetas acreditam

Sem temerem

Os demónios

E as luzes negras!

Os versos

São os nossos altares,

As nossas orações,

Alcançadas de um cume de serrania

Onde o desígnio abarca

Vales imensos de deleite

E sapiência

Quando navegamos

Pela nobreza de pensamento

No cruzado dos ramos

Encontramos sempre algo de novo,

E num outro ramo,

Numa outra folha,

Num outro fruto,

Outra tentativa e vontade em viver

As árvores, as sementes,

São a poesia do poeta

Representam a energia,

Afiguram o alcance

E vigoram

Por serem momentos…

Quando se é poeta

Reconhecem-se luzes

Escrevem-se locuções,

E as que nos ocorrem,

Fluindo,

Declamam as imagens

Que não se conseguem retratar

Senão pelo som da alma

A verdade em si,

É o encanto dos propósitos

Que se traduz

Pelas sílabas das nossas varas,

Pois somos e seremos semente,

Porquanto,

Quando formos deitados à terra

Pela última vez,

Será para florescer

Como génese

De uma nova vida

A uma outra vida,

Para que uma outra semente

Possa germinar

E criar poesia

Numa outra árvore

Num outro fruto

Como palavras

Fluidas e escritas,

Indiferentes

Às prescritas

Pelo poeta

Enquanto semente…

Teófilo Velho
Enviado por Teófilo Velho em 07/09/2007
Código do texto: T642486
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