Névoas

Vi nevoeiros encostados

Às planícies

Entrelaçados pelos labirintos

Que os escondem

Com medo de serem perseguidos

Pelos fantasmas das histórias de crianças

Vi nevoeiros

Dimanarem, encobrirem-se,

No cinzento do infinito

E admirei-os ilimitadamente

Na investida divisada,

Dos túneis,

Que nem sempre conseguem acercar o fim

Por se esvanecerem na luz genuína…

Os nevoeiros ofuscam-nos

E merecem respeito no navegar à vista

Pela névoa que marca

O trabalho dos sentidos

Porque não se sabe se o caminho é o certo

E se o rumo é o verdadeiro

As névoas que vamos encontrando

Pelo tempo,

E os nevoeiros que nos assomam,

Espontâneos,

Marcam-nos o ritmo

E também o desprezo que sentimos

No fluir sem pensar

Quantas vezes me pressenti à deriva

Num mar calmo

Contornado por uma espessa névoa

Onde todos os rumos eram possíveis,

E quantas vezes errante no meio dessa imensidão

Implorei ao céu a procura de compaixão

Lançando, o ajuda-me como âncora

Navegar sem ver

No cinzento dos destinos

Não é dúvida

Mas a prova mais forte

Que o presente nos dá como sorte

O que nos pode sobrevir,

É instar a razão para compreender

Que após nos termos encontrado

Foi possível,

Mesmo,

Punir os destinos que não ansiámos seguir…

De rumo à vista

Solto no mar sem barca

O que deve razoar um homem

Senão pedir,

Esconder-se em si

E apertar-se

Crendo até ao fim

Que a salvação está por perto

Não é do medo que falo

Nem é o desconhecido que dito

É algo mais profundo

A que não me submeto

Sem barca

Uma névoa plagia,

Procura,

E não é irmã,

No cinzento dos momentos mais ténues

E tenebrosos

Dos juízos

Que fazem da vida efémera

As inquietações fúteis

Que incitamos ao longo das remas

Que nos representam a perca

Do tempo que já não se retoma

Por não o termos acarinhado

Como riqueza,

Mas sim,

Como início imenso.

Quando estamos abraçados às névoas

Percebemos

Que os olhares que demos

E lançámos ao nosso percurso

Foram muitas vezes confiados

À deriva sem barca

E sem navegação à vista

Na dúvida, caminhamos todos

Nos cinzentos

Temendo o que não conseguimos

Alcançar nem avistar tão pouco…

Refugiamo-nos nas orações

Acreditando que os momentos difíceis

Foram casualidades

Pouco favoráveis à felicidade

Esquecendo,

O desprezo

Dos longos horizontes límpidos

Afirmando e confiando que eram eternos

A sabedoria do homem assevera

A fuga para retornar ao esquecido

Superando as falhas e os erros

Daqueles que abandonam

Os pecados que deles fazem parte

E que são eles também

Os que nos mostram o outro lado

É no adeus

Que percebemos

Que as névoas existem

E que também são elas

Que nos fazem corrigir

Muita da mestria oca e falhada

Acreditemos no azul dos céus!

Nos tons lilás

Que avistamos no crepúsculo

Já que muitas das nossas névoas

São também fantasias…

Teófilo Velho
Enviado por Teófilo Velho em 07/09/2007
Código do texto: T642489
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