Tango
não chamo ninguem pra dançar
como chamo a tu
enquanto tua sombra segue meus passos
coincidentemente
a fumaça toma o ar
toma outro gole meu
te engulo como a piteira
que engole minha alma
me mata
te ver se mover
tua coreografia me encolhe
à um mero observador
frustrado o suficiente
pra te deixar me matar
de amor
de falta de ar
tu é a metáfora
mais insana
e amarga
que eu poderia personificar
com quem eu poderia dançar
melodiar
a tosse
o canto da cirrose
por que ficar
e me sentar nesse sofá
se posso te ver me queimar
e sentir teu calor me esfriar
te acendo e puxo devagar
sei que vou te ver esvair
depois de cravar no meu sangue
e acelerar meu coração
a solidão instiga
procurar tua companhia
esperar tua visita
na minha boca
acendi a chama
e anoiteceu
pela terceira vez te beijei
é mais do que meu consciente pode suportar
mas meu inconsciente te implora
desce
me afoga
me deixa sem ar
e me deixa respirar você