LEMBRANÇA DA HENRIQUE SCHAUMANN

Pode ser que esta de hoje seja a derradeira dor.

Pode ser, esse de agora, o meu ultimo penar.

Pode ser a ultima vez que,

enquanto o mundo não gira,

o telefone sugira o seu nome acrescentar;

uma sugestão perversa, logo após eu digitar um artigo definido feminino singular.

Pode ser a ultima vez que passe por mim a idéia

de saber a sua resposta, de exibir o meu cansaço

quando bate-me o seu gosto, o seu rosto; seu abraço.

Pode ser que a Henrique Schaumann

guarde em si uma lembrança

de um sorriso e de uma andança

que durava a noite inteira,

sem rumar, sem discrepância, marco zero sem bandeira.

Talvez num jasmim caído,

talvez numa primavera -

"Que linda, essa primavera!" -

Pode estar tudo esquecido.

Pode até ser que uma moça,

transeunte intermitente,

interprete "Feeling Good"

numa leitura diferente,

original, transparente,

arrastada, bonitinha

e fofinha, bem fofinha,

tão fofinha e contundente.

Pode ser que ela, passando e cantando o seu rubato,

com seu jeito amanhecido, faça-me entender um fato:

Os jasmins e as canções, os sorrisos e os artigos, as andanças e as promessas, e até mocaccinos são parte de um ambiente que nos envolve em seu meio, e ainda que haja desgaste, e ainda que haja receio,

pode ser que eu compreenda que essas coisas acontecem...

e depois desacontecem.

Cassio Calazans
Enviado por Cassio Calazans em 04/01/2019
Reeditado em 04/01/2019
Código do texto: T6542481
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