Cordel da vida inteira
é de ter como a vida
um jeito assim coerente
que não viaje pelo tempo
como razão diferente
que nunca dissesse a tanto
a como e quanto se pertence
porque dizê-la maior
que uma vida insurgente
seria tê-la em custos
que não se dá a viventes
porquanto merecê-la
fosse tarefa inconseqüente
e se fosse distribuída
avulsa como se sente
melhor seria contê-la
trincada assim pelos dentes
do que fazê-la material
adrede e talvez urgente
é que de urgências se exclua
pela razão desmedida
de não ter as conseqüências
do que se tem pela vida
é que lhe falta a certeza
e talvez a simetria
das esquinas que a natureza
constrói pelo vão do dia
é de ter só por ser vida
a vazão e a geometria
de recipientes dispostos
numa mesa tão baldia
que não lhes sabe a vivente
o que viventes presenciam
é que é dado ao sujeito
um quê de predicado
e nunca lhe sobra pelo jeito
a contrição substantiva
que lhe permite ser essência
dos predicados da vida
e nessa lida entornado
pelos tonéis da memória
nunca lhe chega a lembrança
o viés de sua história
onde se teve tão vário
apesar de transitório
é que lhe cabe a desmedida
de uma vã matemática
que faz sobrar pela vida
um certo quê de imaginário
que nunca constrói frações
nos inteiros em que cabe
e nesse tão desalinho
em que se permite arranjado
flui uma vida inversa
a tudo aquilo que sabe
e nunca constrói o sonho
do tamanho do que lhe invade
o sonho é sempre constrito
numa lembrança adversa
que trai um jeito de morte
mesmo inventando a gesta
de quem permite que a manhã
seja uma noite sem festa
é que para ser tanto
era preciso a modéstia
de ser, mesmo um,
um milhão de et ceteras
jungido a todos os rios
de correntezas modernas
que não se dissessem águas
mas memórias que se internam
é que no vão do juízo
existe sempre a reticência
de não se ter da liberdade
a compleição tão exata
de sempre se inventar livre
apesar de ser escravo
pois é esse artifício
que constrói a urdidura
de uma liberdade ubíqua
que se retrata na luta
de quem sendo escravo
sempre abole a escravatura
seja pelas vias do interno
seja pela via das ruas
é que ao homem descabe
tudo que lhe construa
como mecanismo automático
de máquinas avulsas
que teimam em fazê-lo inóquo
na pauta do seu susto
é de tê-la assim absurda
apesar de tão querida
como se fora razão
de adentrar essa liça
que teima em ser da paz
apesar de tal notícia
não tinge a pele do peito
nem sempre com a vontade
de declarar-se rural
no coração da cidade
e de construir-se assim agrária
num cenário em que nem cabe
é de se ter pelos caminhos
em descompasso freqüente
como se fora um passo
que não coubesse na gente
pelo dorso dos calcanhares
tenazes de nossa urgência
e se rompe encruzilhadas
com a textura indigente
de quem escolhe o melhor
como se fora urgente
é que lhe falta a parcimônia
de dizer-se freqüente
é de tê-la amiúde
em um tempo inconseqüente
em que as horas nem contam
como produto da gente
antes se tenham como lapsos
algo assim tão pingente
que cai pelos minutos
em que o homem nem sente
mas é por desenhá-la inversa
a tudo aquilo que procura
que ao homem é dado a controvérsia
de ser em sendo criatura
coisa urdida nos seus poros
e na imensidão das ruas
não lhe cabe a fixidez
da intransição dessas ruas
que teimam em ser caminhos
por onde o homem flutua
como uma lua desordenada
na fluidez de suas culpas
mas é de vê-la inteiriça
nessa descompostura
que lhe faz saber a astronauta
mesmo ancorado em amarguras
que lhe moem no peito os dias
dessa humana aventura
mas é de vê-la coerente
nos vieses mais exatos
que lhe põem em armaduras
de guerras que nem desata
como se terçasse as manhãs
com as noites que constata
é que ao homem exalta
aquilo que individido
soma ao peso dos passos
como se fora preciso
levar o mundo nas costas
de todos os seus indícios
mas é de vê-la amor
em leitos constrangidos
que nem sempre se dizem
tudo que é preciso
pois palavras sempre são
apenas verbos intransitivos
que batem no peito das gentes
e se desfazem no infinito