Advento e ocaso

longínquo advento,

em parcos tons apequenou-se

mas és ainda horizonte e história,

a mesma que ao tempo servil muito ofertou,

lá onde, em montanhas de primaveril ardor,

o rosto primeiro, em brilho auroral, aflorou.

melancólico ocaso,

feito de pendões perdidos,

de prontidão vazia, de propósitos risonhos

que o caminho tortuoso o perolar furtou.

melancólico postigo! via desluzida do florescer,

quando, no sumidouro da razão, adormeceram os sonhos.

irreverente advento,

prelúdio e sumário de canções e títulos

em sonoros acordes de possibilidades e convicções,

esteira de aluviões e tormentas que derramará,

na mesma caudalosa e transbordante taça,

o mosto rosado das alegrias e os restolhos das frustrações.

misericordioso ocaso,

vicejante de credo e esperança

que ora acena, daqui do dia que te tem presente,

não com as sombras que propõe teu pretérito ser,

mas com o aceno jovial de que há vida

e que alcançá-la em novo advento é oração eloquente.