Flor no concreto

Se um dia quis saber, hoje sei que ainda não sei.

E seguirei não sabendo, até onde; não sei.

Há coisas que quando não ditas, criam raízes tão profundas que se arrastam e se tornam pesadas.

A mais vermelha das maçãs poderá apodrecer.

O mais doce sorriso irá se desmanchar, dando lugar a lágrimas amargas.

Tudo que toca, tudo que vê, tudo que sente. Nada mais será como poderia.

O toque, tão suave como veludo, se transformará em mãos grosseiras.

Os olhos, uma vez cheios de ternura, verão o mundo inteiro cinza, sem cor e sem vida.

O coração, tão puro, precisará se costurar mais uma vez.

Mais uma vez.

De novo, de novo e de novo.

Não se sabe quando, como ou por quê.

Como se o destino estivesse escrito nas estrelas.

O que há de vir, virá.

O que há de ser, será.

Porém, sois como uma fênix renascendo das cinzas.

Um diamante escondido na terra.

Uma flor no concreto.

Cesar de Andrade
Enviado por Cesar de Andrade em 08/09/2020
Reeditado em 30/05/2021
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