Diaporama de um luto

Hoje alguém morreu

alguém que não conheço

agora

neste instante

antes mesmo de escrever estas letras mortas

Não sei se foi feliz

não sei se veio infeliz

Nem mesmo sei se ao partir

levou a vida que o levou

Não deixou marcas

apenas o que seus rastros lhe marcaram

Se espargido foi

esse pó viaja ao vento misturado à solidão das brisas entardecidas

Levou lembranças?

Pra quê se lembranças são nuvens esparsas

difusas ao sabor de correntes

decorrentes de nem ao menos sei o quê?

Afinal,

mais um final

E somente mais um

Em meio a tantos meios de vida

que até Deus duvida que tenha alguma vida a ser pedida

Sem ter como referência o que seja o mal

e deferência ao que seja o bem,

todas essas consciências sem anti-corpos

já não apresentam defesas em face desse ser

que é o ser sem o saber-se ser

Agora a pouco um viveu (?)

Talvez em busca apressada do sono que lhe dê a chance de sonhar

Sonhar que vive

Para não acordar os sentidos neste findo mundo sem sentido

Anestesiada razão alfandegada

Chega-se como almas imigrantes

ausentes memórias antepassadas

sem visto de permanência

E é tão curta essa ambivalência

Falto aos olhos é a visão do que se ouve silenciosamente

Tão silenciosa mente a ouvir distantes estalos de sensações

como gravetos partidos

no alquebrado notívago coração de emoções

O vento a sentir em fechados olhos

Faz-me saber que diante estou do horizonte

Esse que ao amanhã tão imediato não o tem como futuro

Sofrer demasiado ou pouco sofrer não isenta

alma a tanta insensatez

que por sua vez em cálida tarde d´esperança

suspira último medo de não a eternidade reconhecer

Ainda agora

alguém nasceu

leandro Soriano
Enviado por leandro Soriano em 14/11/2005
Código do texto: T71193