A bóia

Nado, nado, tentando chegar

E, com minha própria braçada, empurro-a para ainda mais longe.

Quando a mão parece alcançar, um vento do norte, do sul, de qualquer lugar

Sopra com toda sua força,

Deixando mais uma vez distante a minha segurança.

Sinal para desistir

Ou indício de um novo caminho?

Penso em me entregar de vez às águas doces desse rio

Que me levam para algum lugar

Que desconheço.

Seria o fim da angústia, do sofrimento.

Talvez o paraíso,

Um lugar melhor do que imagino.

Talvez seja para eu ficar no mesmo lugar,

Estagnada. Conformada.

Meu instinto é nadar.

Aumentar a força das braçadas.

Mas o vento sopra ainda mais forte.

E vejo a bóia se distanciar.

Sinto-me fraca, sem forças nem coragem pra continuar.

Até onde agüento?

Meus braços estão doloridos.

Os ombros pesam com o volume das águas.

Quanto mais terei de nadar?

Gosto de água.

Ela tem o dom de me acalmar.

Me entrego. Relaxo.

Sinto a água subindo.

Chegando perto do meu nariz.

Uma sensação fria vai tomando conta de meu corpo.

Vou-me entregando.

Mas não gosto de frio.

E mexo minhas pernas. Movo os braços.

Expiro com toda força de meus pulmões.

A água fria sai de minhas narinas.

Deixando apenas uma sensação de ardor.

De entrega. De fracasso.

Não me apraz. Me desfaz.

Sou forte. Sou nadadora.

Gosto da água. Gosto do rio.

Decido: vou seguir seu curso.

Me agarrarei a algum tronco,

Algum pedaço de borracha caído.

Vou deixando a correnteza me levar.

Coragem não tenho para parar de nadar.

Sou fraca demais para isso.