Chama de existência

Falta-me um 'quê', tal qual 'quê' não sei dizer.

Não sei.

Se no ser,

no parecer,

ou ainda no saber.

E sem saber, o 'quê' que resta é o tal viver.

E há um contentamento descontente.

Não paixão, mas comodismo.

Que plantam dentro de gente, igual semente

e nos enraíza à beira de um abismo.

Mas não em mim.

Em mim cresceu cinismo

pelo pacato e ameno, é apático.

Quero explosão, quero chama.

Me chama para uma tragédia?

Chama! Me chama para uma euforia.

Um marco, um dislimite, uma mudança,

que cure o ordinário da retina.

Que pode-me a desgraça da rotina.

Quando criança, um anjo de asa quebrada

choramingou, rastejando na calçada:

"Vai menino, acredita!"

Acredita no quê?

No 'quê' que me faz falta?

No mundo de asas quebradas?

Ou em mim?

Que inté então, tão preso ao chão?

O chão é lápide.

É terra, terrífica, raiz do problema.

O círculo é algema.

Desajustada e sem medida, que alimenta.

O tempo é lâmina.

A ampulheta que amputa nossas asas.

Mas inda no chão, algemado e amputado.

Farei algo, como um poema.

Que me dê asas, grandes e brancas.

Que entregue-me meu 'quê' de completância.

Sem que o medo, e sem que

nenhum 'que' de outra instância, detenha-me.

Levo-me junto as asas, ao céu, ao sol,

Incêndio.

Imenso.

Intenso.

E apago-me,

no fim de Icarus.

Hygor Marques
Enviado por Hygor Marques em 19/10/2021
Código do texto: T7367338
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