PALAVRAS

Matéria impura, transbordante como musgo na velha pedra

É assim que a poesia jorra como o gozo de uma noite

Ando tão sexo, drogas e rock and roll, tão clichê

Mas é assim que essa alma espúria anda se comportando

A caneta é um letargo vagabundo, quero mesmo é um dopping

Eu quero apagar sem heroína, fugir, morrer, queimar

Tudo tem sido tão difícil, ser blasè, ser forte, ser fingida

Me esvair desse presente miserável, escrever coisas bonitas

O meu poço é muito profundo, mas é incompreensível

A merda é jorrar e não transbordar, ser invisível

Que cretinice vagabunda é essa porcaria que escrevo

Por que não berro essas verdades incômodas na imensidão

O braço dói, o frio congela, o Christian enche o saco

E que droga, isso não acaba, eu vivo a mesma futilidade

Tenho que me preocupar com o almoço, a roupa suja

Não posso ser eu mesma, drogada, bêbada, libertina

Eu reprimo os meus desejos pervertidos, o peito dói

Pararei de fingir quando? A morte não chega

A sorte não muda e eu continuo muda

Cuido do galo, da coelha, do trabalho, do caralho a quatro

Mas não de mim...não posso ser egoísta impunemente

A minha essência é egoísta, isso é inadmissível

E como não sou eu, continuo sendo a Madre de caridade

Olha que porra, ser a menina certinha...que nojo!

Eu não sou assim! Eu sou uma vagabunda carnal!

E que mal há nisso?Não há mal nenhum!

Só faz mal a mim mesma, à minha natureza

Ela é a prejudicada com meu caráter submisso

A poesia é uma forma barata de escoar essas frustrações

E só por isso que ainda não sucumbi, não explodi

Devido a esse refúgio continuo podendo sonhar

Posso desejar um Fernando que existe em minha mente

E em nenhum outro lugar... eu sei que sou louca

Mas conservo a alma pura para ele, enquanto desejo

Outros mil, mas e daí? Que mal há na luxúria?

Nem católica eu sou! Sou completamente amoral!

Moralidade...pilhéria! Eu quero muito sexo e vinho

Ah, sim, é isso que quero! Poderei parar de versejar!

Encontrar o conforte que Rimbaud encontrou

Pois ser poeta é a maior das desgraças humanas

Escrever é uma maldição, não é motivo de orgulho

Preferia morrer! O bom é conversar com gente

Não com uma folha burra e muda de caderno

Ela tudo aceita como eu tudo tenho aceitado

Mas eu posso rasgá-la, mas não a mim

Eu quero me rasgar também, acabar, não aguento

É dolorido ser uma idiota tão jovem e tão velha

Tão estupidamente velha, ridiculamente jovem