UMA LINDA TARDINHA!

Sento-me sobre a pressão do dia inacabado

Muito água rolará ainda levando de roldão

O mágico transcorrer da tarde

Em especial esta (bem, todas são!) deverá ser...

Que tardinha luzidia! Invejo alguns nobres privilegiados

Que poderão sorvê-la, degustando-a em sorvetes, turbilhões, visões!

Calorosa tardeza linda!

E aqui vou eu... Envolto a tapumes acinzentados

Situo-me sentado, rodando cadeiras, cercado de pressas...

Ao bem das tarefas procuro retirar-me destas ensoalhadas idéias...

Controlo os volumes dos ouvidos chiando, clamando por liberdade

Endireito a cabeça para concentrar-me em inúteis, chatos

conchavos

Da janela aberta sobrou-me a percepção de um parco, acanhado quadrado

Tamanho suficiente para atestar que afora a tarde flui!

Generosa, clara, refulgente, entre os edifícios assobradados e além deles!

Orgulhosa, recusa-se a cientificar-se das aflições deste pobre

encarceirado

Percebendo o mundo de dentro aqui, de dentro de mim,

Comparo, os dois, os três, os muitos, enfim...

O fato é que sempre sonho!

E o sonho "sempre" foge do controle deste aqui

Devaneios trocistas, estes... Encobrem-se em meio à púrpuras rosas

Esgueirando-se por moitas, valas, mateiros...

Desprendidos já de minhas vistas brincam insensíveis a seu dono...

Sob raios solares deliciosos, vesperais!

Impotente, deixo o sonho ser levado a levar-me... Vá então!

Cumpra-se o destino de ser destrambelhado, encantado, arteiro, menino...

De alguma forma nem que de inesperado uniremos nossos destinos

Você pulando nas tardes, eu ansiando por você aqui dentro,

trancado...

Fantasiando que finalmente tornei-me esse moleque ladino,

ensolarado