E agora, Maria?

E agora, Maria?

A Primavera chegou,

o frio acabou,

a chuva sumiu,

a noite esquentou,

e agora, Maria?

e agora, Maria?

você que é sem nome,

que transa com os outros,

você que faz clientes diversos,

que ama, e não protesta?

e agora, Maria?

Está sem saber qual escolher,

está sem curso,

está sem dinheirinho,

só lhe resta beber,

já não sabe o que pode fumar,

queixar-se já não pode,

a noite esquentou,

o Azeiteiro não veio,

o cliente não veio,

a guita não veio

não veio a utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, Maria?

E agora, Maria

Sua doce buceta,

seu corpo de febre,

sua gula em jejum,

sua ludoteca,

sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

sua incoerência,

seu ódio - e agora?

Com a chave na mão

quer abrir a porta,

não existe porta;

quer morrer no lar,

mas o lar secou;

quer ser um Menina,

Mas Menina não é mais.

Maria, e agora?

Se você gritasse,

se você gemesse,

se você se tocasse

á moda vianense,

se você dormisse,

se você se cansasse,

se você não morresse...

Mas você não morre,

você é dura, Maria!

Sozinha no escuro

qual bicho-do-mato,

sem teogonia,

sem roupa, nua

para se encobrir,

sem cavalo, preto

que fuja a galope,

você marcha, Maria!

Maria, para onde?

Baseado no Poema de CDA

E agora, José?