Com amor fiz estes versos

São José, SC, 30/06/2023, madrugada

I

Ah, minha eterna amada,

continuarás como a única que amei

tanto, que me senti verdadeiro rei

num reino humilde de paixão honrada.

Pedi tua mão a quem de ti cuidava

e não cuidei do nosso amor direito,

hoje percebo que há muito andava

num paraíso real, sem ser bom sujeito.

As duas alianças por mim requisitadas

perderam-se no tempo, como a esperança

que eu tinha, um dia, de ver minha criança

acolher, feito homem, outra criança sonhada,

mas sinto que meu tempo esteja se esgotando

porque a lamentar eu fico não sei até quando.

II

Diz-se que não se deve a água derramada

tentar juntar com o balde a ser chutado,

por isso não procuro perturbar teu lado,

pois sei que o bem merece tua alma iluminada.

A minha essência alegre agora é enlutada

e a luta interior não acabará tão cedo

enquanto não souberes que eu senti medo

quando me ofereceste uma união consagrada.

No alto de prepotente inconsequência,

não pensei, por um minuto, que minha consciência

haveria de viver bem mais feliz e plena.

Eu botei, amor, numa balança só a responsabilidade

(que é natural a todos que desejam felicidade)

e hoje eu me resumo em pálidos poemas.

III

A cor da mocidade que em mim já viste

era uma parte minha que a tua luz

iluminava ainda mais, mas enxerguei em cruz

o bem maior que a um casal existe.

Tão graciosa desejavas a maternidade!

Ser pai um dia eu até imaginava

mas enquanto a vida alheia caminhava

eu não te soube ser homem de verdade.

Mas Deus é justo e assim pôs em teu caminho

alguém que ama e que te deu um menininho

para embalar e preencher teu berço.

Se eu não puder rever-te nesta vida,

fica sabendo que muito me é doída

a noite fria em que mal adormeço.

IV

Minha criança ansiosa saúda tua criança,

teu filho há de ser justo e forte,

que Deus te guarde e traga sempre sorte

a quem sempre me trouxe esperança.

Teu sobrenome era o contrário do tesouro

que não avistei mas sempre valeste,

pois grande analfabeto funcional foi este

que hoje, podendo, te daria o ouro

de todos os reinos e principados

para poder estar de novo ao teu lado

e recomeçar a vida novamente.

Meu peito sangra por viver fora do trilho

e estou certo que só bem me faria um filho,

que um dia eu afastei de minha mente.

V

Que viva eu cá na Terra junto um dia

de ti e teu menino, mas quem sabe

talvez só noutra vida isso me cabe

porque o teu esposo ainda faz companhia.

Eu não desejo esse lugar de companheiro

se não me for dada chance realmente,

porque bem quero a ti e sou a Deus temente

e isso quem diz é um apelo verdadeiro.

Sobre a partida de teus pais, eu acredito

que realmente dormem um sonho infinito

até que Deus a todos um dia chame.

Essa certeza que carregas é bendita

e enquanto sonhas, até breve dou na escrita

te desejando: ame, ame, ame!