Começos sem fins

Peço perdão por ter olhado

quando você sorriu para mim

e com as flores perfumando suas mãos

se despediu naquela tarde de outono

e eu te olhei com ternura e saudades,

mas nada disse.

Peço perdão pelas horas em que eu fiquei longe

de te e não mandei as cartas que tanto queria escrever,

e observando a vastidão do mundo pela janela do trem

pensei que poderia ter ficado mais tempo contigo.

Peço perdão, querida, pelo orgulho que se exaltava diante

do nosso povo que mesmo estando nesta terra

se achava digno de ter tirado sua liberdade, seus sonhos

e recolhido o seu presente e despedaçado o seu futuro.

Peço perdão pelo momento em que não pude te ajudar

quando nossas mãos se tocaram e cada um foi para um lado

e eu tentava rabiscar poemas para te presentar

quando a guerra deles acabasse e a gente retornaria ao nosso lar.

Peço perdão por não ter conseguido te salvar dos homens maus

que te colocaram naquele campo e destruíram sua alma, seu corpo

mas não conseguiram, eu sei, destruir seu coração.

Diante de minha imagem envelhecida no espelho

eu sonho ainda em te ver no mundo celeste, querida.

Onde não há dor, sofrimento, morte não existe.

Perdoei-me ó idílica presença da vida eterna,

amor que se consome em chamas de uma paixão inocente

que provou que o tempo passa, mas as cicatrizes pulsam como lembranças.

Luciano Cordier Hirs
Enviado por Luciano Cordier Hirs em 20/02/2024
Reeditado em 21/02/2024
Código do texto: T8003457
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