As velas

Noite de Goiânia,

as luzes abandonam os céus

e vão para seus novos invólucros:

lâmpadas, estrelas, olhos,

mas especialmente, velas.

Em seus pratinhos, lustres e candelabros

as velas tentam reunir o conforto necessário

em um apagão,

um jantar a dois,

na brincadeira de criança.

Pura energia

tremeluz em um movimento de samba

como se em vão tentasse alegrar os homens

enquanto o suor de parafina escorre

por seu corpo branco

desgastando.

E por fim,

as luzes voltam,

o casal vai embora,

as crianças se cansam.

Os membros da família vão tomar banho,

o casal se entrelaça na cama,

as crianças em seu mundo de sonho.

São de fato tempos escuros para as velas,

competindo com a eletricidade,

as sub-partículas,

os gases de lâmpada.

As velas também se deitam para sonhar

com o tempo medieval

em sua poça de parafina

como um morto sobre seu sangue.