Macilentos urubus
Dentro do saco preto
Tem eu, não tem mim
Tem linhas laços vinhas
Um tom um som meu rim
Há um grande terreno
Cheio de dejetos de nós
Uma vala ou uma foz
Da cidade despejos
Aqueles que sobram nas bordas
Aqueles que não tem função
Um ao lado de uma lata vazia
Outro agora sendo jogado do caminhão
Tão cheia essa terra vazia
De restos e de coisas sem serventias
Do que um se desfaz
Outro a se alimentar vem atrás
Macilentos urubus
Bípedes e sapiens
Rodeiam uma pilha
De espantalhos e vontades
E se eu tirar agora de meu bolso
Uma emoção descartável?
Jogo pela janela do carro
Perto de um bueiro qualquer
Um papel
Uma embalagem
Uma vida
Um cinzeiro
O que eu jogo?
O que me joga?
Eu que me desfaço das coisas
Ou elas se desfazem de mim?
Tenho a sensação de estar amassado
Frágil, quase rasgado
Sem validade
Sem vontade
Espero que alguém me recicle
Me tome e me dê serventia
Pois temo cada vez mais
Uns pássaros que chegam absortos
Com vontade de me bicar
Querem comer meus restos
Meu tutano
Malditos corvos!
-Nunca mais!
Gritam sem parar.