O Bom Samaritano
Há, mas tem que se compartilhar
Quase tudo é compartilhável
A cerveja, os risos
Os pratos e os prantos
A vitória e a régia
O meu canto e os encantos
O amargo e o doce
O vulgar nem se compartilha mais
Dá-se.
Compartilho meus medos,
Segredos, compartilho em meu jardim
Minhas flores e os beijos de meus amores
Compartilho minha vida
Dilacero-me, me rasgo
De mim, te dou um pedaço.
Pra alimentar sua alma vazia.
Compartilho meus sapatos
Meus livros, meus discos
Compartilho meu sexo
Ou o seu
A alegria, a folia
A novela
O serafim
A novena
A reza
O capeta e o medo do fim
Só não compartilho a arte
Minha amante secreta,
Me lambe em segredo com sua língua de todas as eras
E todos os gostos cabem em mim
Só sou egoísta com o que é meu.
E por não possuir nada
Me perco na sensação de vazio.
Alguns ouvidos gostam de ouvir minha palavra
Alguns corações compartilham afinidades.
Algumas vidas se completam
Outras se trombam
Pra depois se estranharem.
Minha poética é rasteira
Minha língua de coral
Meu coração é dos homens
Que se devoram sem igual.