Estoque de espíritos

Para que adquirir tanto conhecimento

se meu pranto primeiro deu-se no abrir dos olhos

analogia máxima do vir a ser,

do saber-se e do reconhecer ao que há

Fulguras, ó homem, florão da incerta!

Iluminado ao sol de um (nem tanto) novo mundo.

Negociante das ideias

comprador e vendedor

de espíritos.

O que é uma biblioteca senão,

um estoque de espíritos?

Dentro dessas contenções físicas do saber

transfiguram-se os homens

em máquinas disseminadoras da sapiência.

Quando lemos uma obra

é como se tocássemos numa alma.

Conseguimos sentir a textura de sua pele.

A pele-ideia, colada ao córtex.

O crânio do outro repousa em nosso ombro

contando-nos novidades

em feições signo-oculares

ou auriculares.

Propomos ao nosso eu morto

aquele que morreu no sono

(pois nascemos novos todos os dias),

um casamento com o todo;

com a intimidade

do todo

que é tão nossa...

Wellington Berdusco
Enviado por Wellington Berdusco em 09/03/2014
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