C_NS_R_DA

Eu vi a juventude passar por mim

vagarosa, preguiçosa.

Senti na pele emoções sinceras.

Sorri.

Cantei.

Diverti.

Cheguei até mesmo a amar.

Mas o tempo não para

e passa sem ser notado.

Já sinto nos ombros a pressão de crescer.

É tempo de dedicação e esforços.

Mentiria se dissesse um dia

que ao passado jamais voltaria.

Vivi um tempo bom,

mas para um outro alguém.

Não fiz o que queria.

Não me entreguei por inteira a nada.

Vivendo constantemente

com medo de ser renegada.

Não pude amar de verdade.

Nem ao menos dar atenção

a quem realmente importava.

Fingindo sempre ser um alguém que não sou.

Para quê, afinal?

Não me tornei uma pessoa especial.

Nem ao menos saí do lugar.

Destinada a ser a mesma coisa sempre.

Não sou tão velha, de fato,

mas meus anos bons foram roubados.

E eu não resisti.

Deixei-me levar pelo medo e insegurança.

O que me resta?

Chorar não irá resolver.

Muito menos reivindicar o tempo perdido.

Resta somente viver enquanto é possível.

Terei que deixar mais alguns anos para trás.

Eles me disseram.

Devo escutá-los, afinal sempre foi assim.

Por quê?

Ora, eles detém o poder.

Eu os deixei comandar minha inútil vida.

Considere-me então, caro amigo

como um caso impossível.

Jogarei mais esse ano,

em meu enorme baú do tempo perdido.