Estou...longe de mim

Estou tão longe de mim que não consigo me enxergar como sou,

E a minha imagem (de mim) fica sem foco, difusa, embaçada,

E o que vejo deste eu de mim não é o mesmo eu que sinto que sou.

Estou trancado num egoismo de mim para comigo.

Estou trancado dentro do meu eu,

Irritado, sombrio, taciturno,

Sem saída.

Qualquer tentativa de fugir de dentro do que sou,

Hoje, me faz ter medo.

Um medo que é de liberdade de ser o que nunca

Consegui ser: eu mesmo dentro de mim,

Um só apenas.

Ilusão, apenas, de o conseguir

Tentativas, apenas, de tentar.

Não ser. Eis o que sou.

Quando me convenço de estar só,

Alguma coisa se remexe em mim,

Desperta o meu sono de estar dormindo

Na minha vida,

Sacode de novo as minhas emoções já

Tão remexidas, já

Tão vividas nesse sonho onde não sou

Eu que sonho essa minha vida,

Mas, o que quer fugir,

O que quer escapar de viver a vida,

Para existir em vida.

Tudo são só palavras.

Tudo são só sentimentos de querer.

Mas não o querer somente,

Sozinho,

Essa coisa é só, apenas, isso.

É o que escrevo.

É o que penso para escrever.

Não mais que, apenas, isso.

Somente isso.

Sinto vontade de desvencilhar-me de mim,

De me desvestir desse fato vestido do que sou,

De arrancar a máscara, de um eu que não me cabe,

Grudada em meu rosto, grudada no meu corpo inteiro

Como uma outra pele de mim, grudada na minh'alma

Como uma outra alma de mim.

Quero me esquecer e não consigo.

Me levo sempre junto com o que já fui de mim,

Num tempo que era meu e era outro.