Uma aparência de mim
Eu pareço existir como eu sou,
Há muitas evidências de tudo o que sou em tudo que já fui.
Sinto-me muitos em mim mesmo.
Sinto, mesmo, uma corrente me unindo em todos
os eus que já fui, neste que hoje sou.
Os elos dessa corrente são todas as manifestações do meu eu,
é a soma da minh’alma até aqui.
O que une, a substância que liga um elo ao outro,
é a minha existência como ser.
Às vezes sinto uma lacuna entre o meu pensamento
e as cousas que escrevo por sentir.
É assim uma sensação de tempo e espaço diferentes e,
no entanto, um entendimento de serem os mesmos
por pertencerem a uma só pessoa: eu.
Esse desequilíbrio entre eu e mim, entre o tempo e o espaço
de eu como eu mesmo, e o tempo e o espaço de mim,
é a exata sensação de que eu já fui o mesmo
que hoje eu sinto que sou.
A ponte que me une, que me torna um único ser,
onde eu e todos os meus eus que já fui transitam
o tempo e espaço de cada um, é o meu entendimento
de haver recebido, não só as vidas que já vivi,
mas, de ter como absoluta verdade a crença de haver
recebido, também, uma existência.
Uma possibilidade infinita e inesgotável de continuar,
indefinidamente, me somando a mim mesmo,
construindo um ser que, maravilhosamente,
amorosamente, cresce em si mesmo, sem, contudo,
nunca se perder de si mesmo.
Eu sou a derivada e a integral, o limite
e a função de mim mesmo;
eu sou tão infinito em potência quanto
pode ser infinito o próprio infinito!