No que você está pensando?

No que você está pensando?

Eu?!...

Puxa! você instiga a me revolver por dentro e

extrair coisas de mim...

coisas minhas, mas que dá vontade de partilhar,

porque, alguma coisa me diz, são de mais alguém.

Eu, agora, enquanto escrevo, tenho a nítida sensação

de que, neste mesmo instante meu de hoje,

vivido ontem, não sou igual.

Eu não sou o mesmo de ontem, nem sou o mesmo

do que fui num mesmo instante de hoje, passado.

Hoje é apenas um dia, como ontem também houve um dia,

mas nem ele, o dia, hoje, foi igual ao de ontem,

nem mesmo as vinte e quatro horas que lhe damos

como tempo de existir é igual,

nem mesmo o tempo de vinte e quatro horas hoje,

vai ser igual ao de ontem.

Eu, assim como o tempo, assim como o dia,

assim como tudo o que existe,

não sou o mesmo nunca.

A minha essência é um encontro diário

de mim comigo mesmo.

Eu sou um acréscimo de mim em mim mesmo,

não só de corpo, mas de alma e, também, de espírito.

Tudo em mim se renova porque tudo que está

no entorno de mim também se renova.

Tudo, daquilo que eu posso ver, ouvir, sentir,

num dado instante, não é igual

ao que eu já vi, ouvi e senti,

num instante anterior.

Ah! Esses meus olhos de ver!

Ah! Esses meus ouvidos de ouvir!

Ah! Esse meu ser de sentir!

Ah! Essa minha vida de viver!

Por isso, em tua beleza, és linda!

Por isso te a amo e te venero!

Por isso, em todos os instantes de você,

eu me recolho, repartido, em mim mesmo,

e me amo infinitamente,

e me conheço infinitamente,

e nunca me esgoto,

nem nunca me excedo, porque

amanhã, hoje, daqui a pouco, ainda agora,

há muito mais de mim e de ti, ó vida!,

para recolher e juntar naquilo tudo

que já sou!