SE FUE LA VIDA... - DO LIVRO TOCATAS

João Bosco Soares dos Santos

O tempo se abre como um louco abismo

e me suga sem piedade.

E, num derepentente, sem que eu perceba,

me lança esvaído no poeiral das espumas e sombras

do que já me foram vida e doces quimeras.

E envolvido por minhas

e em minhas fragilidades,

já não mais consigo distinguir

o que é imaginação;

o que é sonho;

o que é alegoria;

o que é visão;

o que é real.

E, num perto;

num bem próximo contexto,

já no mais fundo do meu eu,

ou lá longe; bem lá no longe bem longe,

onde somente me vejo em imaginação,

acordo-me,

entre meus soçobros psíquicos e visuais,

sem mais saber distinguir entre a forma e o real;

entre a imagem e o concreto.

E, sem mais poder ou entender o querer,

nem mesmo o mais simples;

nem o mais banal ou mais imediato,

já não mais sou eu;

não mais me acho eu;

não mais me sinto como qualquer sinal de mim.

Não mais posso ser eu, porque,

pouco importa ser ou não ser.

Agora, só posso me pensar, me sentir e me ver,

sendo apenas um eu-espaço,

vazio de corpo, de alma, de querer e de imaginação;

um espaço no espaço,

onde tudo é somente espaço.

E até a poeira e a sombra

são vazios espaços

no interminável universo

ou dentro de mim e dos meus visíveis horizontes.

E agora? Que é da vida???

LA VIDA SE FUE...

João Bosco Soares
Enviado por João Bosco Soares em 05/01/2015
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