Sinto-me
Sinto-me cansado nesta noite quente e fúnebre.
Pensamentos soltos voam e pousam
Em diversas pistas musicais,
Os meus sentidos adormecem
Junto ao aperto que sinto na boca do estômago,
As curvas do meu cérebro latejam de dor
E o sofrimento físico de um corpo atingido
Por um dia desgastante
Não é nada comparado
Ao meu estado psíquico-emocional.
Hoje sei que tudo vai tão bem
Como a vida de um cego que sonha em enxergar.
Eu tenho tudo o que posso e não tudo o que eu quero,
Mas eu não quero o seu carro, a sua casa
Ou a sua estabilidade financeira.
Eu quero a esteira!
Onde eu possa descansar
Feito um Tupi-Guarani.
Sinto-me numa página de um livro de História,
Ainda na parte em que éramos felizes,
Nós na rede
E as árvores em seus devidos lugares...
Sei que sou um pobre nobre,
Por que nobre é o pobre pensador,
Poeta e sonhador
Que vive à espera de algum amor.
Essa situação me estagna,
Comove e enfurece
Na certeza de que as coisas
Não são como elas são,
Não são como poderiam ser,
São como realmente podem ser.
Então meu amigo,
Acerte-me na cabeça
Onde tanto dói,
Feres a ferida não cicatrizada
Quem sabe eu não mereço?
Quem sabe eu não esqueço?
Pois não guardo arrependimentos,
Mas alimento os rancores
Que tenho das abstrações,
Por que a concretude material
Move-se intensamente e relativamente
Na medida do possível
E dentro da necessidade do imediato.
Mas que calmamente...
A aurora que eu avistar estupefato
Faça-me deslumbrar a visão de um novo mar
De um novo sol!