A VIDA

a vida! 06

Aqui sentado diante deste espelho,

vejo meu rosto, já cansado e envelhecido!

olhe-o bem, seu José aparecido,

fixe os olhos neste teu olhar vermelho.

vem-me à memória, aqueles tempos vencidos,

que comprazido eu dobrava meu joelho,

era flexível como molejo expremido,

e eu era rápido, como um rápido coelho.

mas, saudações a juventude que passou,

meus cumprimentos ao velhinho do presente,

mora contente num corpo que se cansou,

Naquele tempo era tão jovem e valente!

Foi tão depressa, como a pressa de um vento,

só o talento fica preso ao esqueleto,

no intelecto dos poemas que invento,

pra mim sem cores, somente em branco e preto!

Então me esforço para um pouco colori-los,

trazer-lhe um brilho que lhes pinte em belas cores,

apagar dores e o rastro destes trilhos,

que maltrapilho eu morria de amores.

Paixões doídas e feridas tão profundas,

que oriundas de uma juventude atroz,

eram só nós, eu e a iniqüidade imunda,

faz tanto tempo e ainda ouço sua vós.

olha-te bem, seu José Aparecido,

pois ter morrido poderias, sem ao espelho,

dar um conselho e a muitos convencido

e ter colorido estes versos com vermelho!

Já não são mais estes versos branco e preto,

já nem em gueto anda tua alma, não tem dores!

se teus amores vissem os versos deste jeito,

se ofuscariam, destes brilhos, destas cores.

Já não és pobre e maltrapilha alma, és rica!

e glorifica Aquele que te encontrou,

de um vil poeta em um nobre transformou...

Glorifica a Ele, ó minha'alma, glorifica!

José Aparecido Ignacio ( Agosto 2013)