Fitos e frutos
Eu vi uma velha plantando uma árvore, afagando a plantinha,
o semblante a sorrir. Eu vi muitos meninos festejando os seus frutos, a provar belos galhos a se divertir. Eu vi, eu vi.
Eu vi, eu vi sim. Eu vi uma saia frondosa
se tornando sombra
e as redes armadas pra gente dormir.
Eu vi a raízes se cravarem bem fundo
e, no seio da terra,
de seiva se servirem.
Eu vi, eu vi.
Eu vi, eu vi sim.
Eu vi os namorados provando as delícias,
sedentos do orvalho das folhas a cair.
Eu vi a passarada fazendo algazarra,
tecendo seus ninhos,
cantando o porvir.
Eu vi, eu vi.
Eu vi, eu vi sim.
Eu vi suas folhas
exalando ar puro,
renovando as brisas
pra gente sentir.
Eu vi tanta água
escorrer pelo tronco,
infiltrando no solo e banhando os rios.
Eu vi, eu vi. Eu vi, eu vi sim.
Mas vi com tristeza um gesto infame
de filhos que enterram a velha e seus ritos,
cortando a árvore e matando o ciclo
deixando seus filhos sem fitos e frutos
(Poema extraído do Livro: "Geografia em poesias: tempos, espaços, pensamentos - Luiz Carlos Flávio).