Mundo sangrado
Todos os dias vemos o mundo sangrado por tantas ironias,
vemos povos acuados por fardos do dia-a-dia,
vemos gente nas cidades entregues à agonia
e as gentes do roçado sobrevivendo por um fio.
Todos os dias vemos o mundo sangrado em pobres alegorias,
vemos homens transtornados, sem trabalho e alegria,
mulheres atormentadas por servilismos sem brilhantia,
crianças e velhos mitigados, sem vida que traz valia.
Todos os dias vemos o mundo sangrado por falsas ideologias,
onde os fatos divulgados são razões e verdades frias
que atendem interessados em controlar economias
cujas mídias, alinhadas, são notícias que maquiam.
Todos os dias vemos o mundo sangrado às sombras da tirania,
vemos um céu estrelado por mísseis da covardia,
vemos povos acossados por dívidas eternecidas,
gente empobrecida por riquezas não repartidas.
Todos os dias vemos o mundo sangrado, naturezas ressentidas,
vemos solos estirados, de coberturas despidas,
vemos rios assoreados, céus e águas poluídas,
matagais dilapidados por empresas enriquecidas.
Todos os dias vemos o mundo sangrado em cidades tão perdidas
de gentes entristecidas, de vidas mal vividas,
de violências açodadas, poluições enlarguecidas
de riquezas aumentadas e pobrezas enfurecidas.
Todos os dias vemos o mundo sangrado, sem versos ou poesias,
de homens desatinados, feitos máquinas à revelia,
vemos povos tão cansados, esperando novos guias,
em liberdade encarcerados em fossos de apatia
e por vezes construindo novas faces de rebeldia.
Eta mundo sangrado, tão carente de magia,
que às vezes sonha, às vezes luta
para inventar novos dias...
(Poema extraído do Livro: "Geografia em poesias: tempos, espaços, pensamentos - Luiz Carlos Flávio).