Cegas obediências
Ouço vozes atordoadas, espraiadas,
que ganham as ruas,
minadas pelo desencantamento
ou pela busca por descortinar
a nudez existencial humana:
- Parem o mundo, que quero descer!!!
Eu, das profundezas de meu eu
mais irado, mas sereno porque sofrido,
faço uma réplica às vozes errantes
e (des)concertantes que ouço:
- Não! Na verdade não quero descer
deste mundo doido!!!
Parem! Quero nele subir...
Primeiro, porque é do alto de sua corcunda
que nos permitimos ver ao longe,
ainda que turvo o mundo nos possa parecer!!!...
Além do mais, apenas galgando a maluques
podemos ver o quão o certo que mirávamos
se cerca de incertezas, a novos e atentos olhares...
Incertezas que nos falam da pluralidade do existir,
não contemplada pelas visões
prenhes de verdades contumazes e retas...
Não!... Não quero me desfazer da loucura!!!
Apenas dela é que não quero me livrar.
Apenas ela dá sentido pra orbe
que ajudamos a levantar,
mas que também podemos destruir, reinventar,
já que cheia de mesmices, regras,
ordens e cegas obediências!!!
Abaixo o mundo que não for maluco!
Pois certamente ele não presta,
por professar podres e pobres
verdades absolutas
incapazes de ver o novo
às vezes tácito, às vezes gritante,
mas não visto por nossas lentes
fechadas a novos olhares...
(Poema extraído do Livro: "Geografia em poesias: tempos, espaços, pensamentos - Luiz Carlos Flávio).