Cegas obediências

Ouço vozes atordoadas, espraiadas,

que ganham as ruas,

minadas pelo desencantamento

ou pela busca por descortinar

a nudez existencial humana:

- Parem o mundo, que quero descer!!!

Eu, das profundezas de meu eu

mais irado, mas sereno porque sofrido,

faço uma réplica às vozes errantes

e (des)concertantes que ouço:

- Não! Na verdade não quero descer

deste mundo doido!!!

Parem! Quero nele subir...

Primeiro, porque é do alto de sua corcunda

que nos permitimos ver ao longe,

ainda que turvo o mundo nos possa parecer!!!...

Além do mais, apenas galgando a maluques

podemos ver o quão o certo que mirávamos

se cerca de incertezas, a novos e atentos olhares...

Incertezas que nos falam da pluralidade do existir,

não contemplada pelas visões

prenhes de verdades contumazes e retas...

Não!... Não quero me desfazer da loucura!!!

Apenas dela é que não quero me livrar.

Apenas ela dá sentido pra orbe

que ajudamos a levantar,

mas que também podemos destruir, reinventar,

já que cheia de mesmices, regras,

ordens e cegas obediências!!!

Abaixo o mundo que não for maluco!

Pois certamente ele não presta,

por professar podres e pobres

verdades absolutas

incapazes de ver o novo

às vezes tácito, às vezes gritante,

mas não visto por nossas lentes

fechadas a novos olhares...

(Poema extraído do Livro: "Geografia em poesias: tempos, espaços, pensamentos - Luiz Carlos Flávio).

Luiz Carlos Flávio
Enviado por Luiz Carlos Flávio em 13/05/2015
Reeditado em 13/05/2015
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