Um canto escuro
Sou um atalho escondido de mim mesmo.
Só eu sei a que distância ele não fica,
Os meandros e as montanhas que atravessam...
Um passado bem presente na memória;
Um presente tão fugaz que nem existe,
Um futuro quase certo a palmilhar.
Sou o rebento rebentado a ferro e fogo
E a soma do que vi e me disseram;
Mas, na carne, sou as coisas que comiam,
Desde os tempos mais remotos que passaram.
Me formei também dos cheiros e texturas,
Dos abrolhos que atravessam pés descalços,
Dos enlaces amorosos, dos gemidos,
E das dores onde nascem toda gente.
Meu passado não esqueço, logo existo;
Meu presente tem passado a todo instante,
Se me tocam é uma nota, é dissonante,
Um bemol, um sustenido, um canto escuro...