Um canto escuro

Sou um atalho escondido de mim mesmo.

Só eu sei a que distância ele não fica,

Os meandros e as montanhas que atravessam...

Um passado bem presente na memória;

Um presente tão fugaz que nem existe,

Um futuro quase certo a palmilhar.

Sou o rebento rebentado a ferro e fogo

E a soma do que vi e me disseram;

Mas, na carne, sou as coisas que comiam,

Desde os tempos mais remotos que passaram.

Me formei também dos cheiros e texturas,

Dos abrolhos que atravessam pés descalços,

Dos enlaces amorosos, dos gemidos,

E das dores onde nascem toda gente.

Meu passado não esqueço, logo existo;

Meu presente tem passado a todo instante,

Se me tocam é uma nota, é dissonante,

Um bemol, um sustenido, um canto escuro...

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 23/05/2015
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