O CANTO QUE NÃO CALA
Cante, cante sem pestanejar,
mantenha os olhos abertos,
vidrados nas dores do mundo,
cante sem falsear, parafraseando.
Cante ao vento, cante ao sol,
cante na chuva, cante o homem,
cante tudo que é teu,
cante até o que roubaram de ti.
Cante com os sinos, bem cedo,
logo de manhã; cante por que
um homem acaba de nascer,
se viverá, não sei, mas cante.
Cante ao se despir, aos que
moram nas sarjetas, cante
às moças loucas, mesmo que elas
se vendam cantando, cante.
Cante sem descartar o lírico,
o romântico, o louco, o palhaço,
cante ao circo cheio de humanos,
cante as covas abertas, prontas
para receber o último canto.
Pedro Matos