O CANTO QUE NÃO CALA

Cante, cante sem pestanejar,

mantenha os olhos abertos,

vidrados nas dores do mundo,

cante sem falsear, parafraseando.

Cante ao vento, cante ao sol,

cante na chuva, cante o homem,

cante tudo que é teu,

cante até o que roubaram de ti.

Cante com os sinos, bem cedo,

logo de manhã; cante por que

um homem acaba de nascer,

se viverá, não sei, mas cante.

Cante ao se despir, aos que

moram nas sarjetas, cante

às moças loucas, mesmo que elas

se vendam cantando, cante.

Cante sem descartar o lírico,

o romântico, o louco, o palhaço,

cante ao circo cheio de humanos,

cante as covas abertas, prontas

para receber o último canto.

Pedro Matos

Pedro Simao Rocha Matos
Enviado por Pedro Simao Rocha Matos em 26/05/2015
Código do texto: T5255165
Classificação de conteúdo: seguro