Luzes do pelejar
Viver é buscar, onde a gente esteja,
o firme habitar.
É ainda um eterno
fazer amigos,
um eterno refazer ligas, desfazer ou preparar brigas
e, mesmo no inverno, estabelecer boas vigas,
acender fogueiras,rebater poeiras
para consolidar o nosso lugar
sob as luzes do pelejar.
Viver é eterno buscar - mesmo que duro seja -
um porto seguro onde se veja, com quem quer que se esteja ,
um ponto bom pra viver, estar, morar.
É, mais que tudo, um eterno derrubar
os inúmeros muros do mundo:
na terra, no ar, na selva, no mar.
Isso, mesmo na cidade mais insossa e aguerrida,
onde se pode também gerar
a por nós eternamente (re)inventada,
a esplêndida vida.
Viver é, principalmente, derrubar os entulhos
que emperram o desejo sagrado de sonhar
que envenenam, arrancam, com agravo, do peito,
mediante a lugubridade de nefastos lampejos,
a coragem de avançar.
Viver é se postar com bravura
face às paredes mais duras, às vezes cruéis ou cruas,
que se nos põem à frente.
É arrostar com ternura as tempestades e enduros
que estraçalham os ais (e olhos) da gente
nos caminhos difíceis de se encontrar...
Viver é enfrentar o que tenta roubar
o alento que fixamos na mente,
único combustível - de longe o mais decente -
capaz de inspirar o mais nobre caminhar
que, certamente, somente os fortes recrutam pra lutar.
Fortes são aqueles que, vencendo ou perdendo,
firmes se agrupam, lutam, arrancando forças
que brotam de repente, das vontades
e construções grupais as mais inesperadas
pra embalar os sonhos das lutas emboladas,
que, entrementes, apuram em seus fazeres,
fontes de sentidos, pontes que rompem fronteiras
para vincar ternura e resistência
nas frentes e fontes de existências duras das gentes!
(Poema extraído do Livro: "Geografia em poesias: tempos, espaços, pensamentos - Luiz Carlos Flávio).