CEGUEIRA NOSSA DE CADA DIA
A cegueira não é metáfora.
É realidade.
É doença física e moral
que convive e se espalha
como fogo em palha
no dia a dia de nossa vida banal.
Ela acompanha,
com pompas de boa dama,
nossa vida consumida
em práticas alienadas
que são impedidas de ver
com razão e sobriedade
os caminhos por nós mesmos trilhados...
A cegueira é atrevida.
Pois é inclusive vendida
nas TVs, mídias, internet, jornais...
É doença intempestiva,
mas ativa, matreira:
passeia em nosso meio
de forma solta, viva, empolada,
mas com tal sutileza e esperteza
que sequer é notada, enxergada...
Sempre como quem não quer nada
ela enche nossos olhos de veneno,
discórdia, desamor
apenas tendo isso em mente:
espalhar de forma insana
o pensar pequeno, a desordem e a cizânia,
a violência e o horror
que radica desumanidade
no epicentro de um tempo radical
em que o amor, a amizade, a solidariedade
e até o tesão, como a visão,
são leiloados e comprados
para agregar valor ao deus-capital
em cuja esteira
se espalham todas as sementeiras,
sutilezas e espertezas da cegueira...
(Luiz Carlos Flávio)