Quando minha Alma Goza
Pelas coisas que perdi por causa da preguiça;
Pelas coisas que não vi acontecer por causa do comodismo;
Pelas lágrimas que derramei por ser jovem demais e não ter percebido
Que finais tristes são mais frequentes que os felizes e
Pela fraqueza de encenar o papel do coitadismo;
Pelas cicatrizes que colecionei (e sigo aumentando a coleção)
Ao longo desses meios anos;
Pelo amor que já ardeu-me o peito, atordoou-me os sentidos e depois
Só acabou, foi embora;
Pelas caras quebradas - fruto de minha teimosia e altivez;
Pelas coisas que saíram mais erradas do que certas,
Mais feias do que belas;
Por essa vida de gente de verdade:
De gente que sangra,
De gente que não tem dentes tão brancos,
De gente que já se frustrou,
De gente que já perdeu o sono por ansiedade,
E de gente xinga quando tem raiva;
Por tudo isso e umas outras coisas, as vezes
Fecho os olhos e lembro...
Lembro de muitos, lembro de lutas,
Lembro lutos, lembro de tudo.
Eu lembro.
Abro os olhos, as vezes úmidos,
Olho para o teto, miro para o nada.
Daí vem-me a sensação de alívio: ora, passou!
Então inspiro e expiro...
E o expiro é, mais que expiração:
Quando aquele ar sai com força dos meus pulmões,
O que sai junto é um Grito de alívio
E uma oração sem palavras feita pelo meu espírito.
Depois de uma breve odisseia silenciosa,
Aquele ar saindo com força dos meus pulmões,
É quando minha inquieta Alma finalmente goza.