Estados de sítio

Sonho-te

grato pelas ondas

oceânicas que navegam em mim

excepcionais

embelezando com tanta fúria

minhas encostas brilhando

translúcidas

gotejando no sopé de cada margem

novos cânticos

trajando amores inalienáveis

poemas precoces

escritos a esmo

vivificados no tempo

– Agenda pra mim

uma cerimónia transpirando

vida

congrega cada tom musicado

em sonoras gargalhadas

ávidas pelo reencontro

acometido, profético

entre nossas ausências

compelidas

entre mil tréguas

pousando convidativas

onde rompe mais um dia de vida

esquiva,dolorosa,

perpétuamente enaltecida

– Saibamos nós temperar

o tempo que nos foge

quase inédito

repetindo todos os roteiros

na viagem intemporal

desprevenida

concedendo-nos em cada

oração tão álgica

uma existência fremente

onde nunca relutantes

pavimentamos nossa fé

tão estereofónica…assim redimida

– Eis minha vontade

agora redesenhada nestas linhas

empanturradas de palavras reticentes

apenas premiando este desleixo

que sei

não sei mais como escrever

um poema sem rimas

imprevisíveis ou displicentes

morrendo dispersíveis neste tédio furtuíto

quando me deixaste na planície

da solidão

comendo-me de fastio

quase tão apetecível…amiúdadamente

instintivo

– Não mais me encontro

entre aqueles milímetros de tempo

onde habitei

escravo de tanta oratória

perpetuada em todos os meus

estados de sitio

esgueirando-se de mansinho

neste laboratório do amor onde

efectivamos tantas vidas

imergindo nas reacções em cadeia

arquitectando-nos tão apelativas

nas mãos deste teu servo

que em ti habita

equitativo

passeando sossegadamente entre

teus poros

bramindo contaminados

naquele perfume feliz quase intocável

onde nos vinculamos palmo a palmo

céleres, definitivos…implacáveis

FC

Frederico de Castro
Enviado por Frederico de Castro em 03/07/2015
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