Pungente Questão.
Senhor,
Por que esse turbilhão interior me consome,
Essa encruzilhada de Hamlet,
A suma dúvida paradoxal:
A sabedoria ao achar que sei quem sou,
Se sábios sabem quem não sou?
A ignorância ao saber quem não sou,
Se tolos inventam quem sou?
Ser plácido, apático e de alma plangente,
A imaculada voz silente,
De corpo descansado,
A viver a infinita espera da provisão dos céus,
O simples querer sem causar, sem nada fazer?
Ser revolto, heroico e de alma idônea,
A veemente voz insurgente
Que empunha lança e espada,
E luta, em favor da turba, pelo direito,
Pelo certo e que deve ser feito,
Sofrendo a constante pugna
Provocada ao poluto soberano?
Se aquietar consentirei a fraqueza,
A certeza de que nada será mudado,
Viverei meus dias pérfidos,
Nos relhos, atormentado no profano espírito.
Se gladiar serei minoria,
Os hesitantes continuarão passivos,
Serei ao exílio condenado,
E morrerei em causa do meu nobre espírito.
No remate resta edificar acanhadamente
Apenas a singular parte,
A carga em morte-vida
Dos meus leves fardos,
Minha fantasiosa e irrisória contribuição.
E esperar o grito sufocado,
Observando de baixo
O planar das dominantes águias,
A digna consciência, presa e duelo do momento,
Imperiosa aos inocentes, covardes e descrentes,
E à invejada mazela batizada poder.