As Duas Leis do Amor

Princesas do meu jardim, volteando incessantes,

Cujo esplendor seduz a primavera,

O vasto mundo do ledo amor, em guerra

Tenho dos paraísos ébrios e aliciantes.

Esculturas de carne em mel,o meu anátema

Tinge cruel de vingança os possíveis amores,

Sou todo pavor e zelosos rigores,

Nem posso arquitetar um lírico estratagema

Com que vos ame o sensual emblema

De grácil gesticular posto em liberdade,

O encanto feminil fluindo em amenidade

Em viver sem culpa do Éden o alado tema.

Asas ao vento como plumas graciosas

Os corações em triunfo perante o lume

As curvas livres alegremente fogosas

Sexos desnudos hilariantes de perfume.

Como eu poderei dobrar a maravilha

De vossas ancas eternamente francas?

De vossas ilhas frequentadas brancas

De meu pudor na flagrante escotilha?

Sim!A cidade é vasta de visões diletas!

A cada esquina se abre novo universo!

Cálice jucundo de renovadas borboletas!

Paraíso do delírio natural, verso e reverso.

Do labirinto as formas trágicas e obtusas

A autoridade que só desmorona castelos

O legislador em cujas dobras obtusas

Do manto, pranteiam mais de mil flagelos.

O pérfido juiz ,vendendo todo orgulhoso

Sua sentença ao cheque branco do culpado,

Terá a quais agruras o inocente condenado

Por obra dum ilícito fulgor de rancor vergonhoso?

A prostituta traindo o amado noite e dia

Ousa acessar os tribunais com sua mentira

Antro lascivo e enganoso em sua cegueira

Onde a verdade padece sua atroz agonia

E a conveniência mais de uma vez triunfa!

Ouço o rugir estridulo de tristes condenados

Pela pobreza ,não pelo crime ,marcados,

O cárcere a rir de toda essa opera bufa

E meus sentidos agonizam com os espinhos

As torpes chagas da sociedade desabrocham.

Assim os deuses dos mortais ,irados, debocham,

Quando os homens são uns aos outros daninhos.

Outra é a Lei do amor altivo em liberdade!

Emocionados os olhares com seu ditoso vinho

Entreabrindo em flamas o ardente caminho

Encontram os cúmplices dossel de amenidade.

Palavras aladas retumbam quais opalas

Os oboés são todos sol de gosto aceso

Os corações,gloriosos no triunfo teso,

Bocas de luar sorrindo profusas escalas.

-Acerta-te comigo,doce amado dos meus sonhos!

De onde vens, o que queres,qual mágico enleio

Assim prende tua flauta a barca do meu seio

No estase dos pães,no vicejar dos vinhos?

_ Digo-te que te quero amar em liberdade,

Tomo teu seio pleno de promessas plenas

Desenrola dos olhares teus os rútilos poemas,

Apazigua com teu corpo a ávida vontade.

E partem assim, menestréis da eternidade,

Em meio ao favo e ao bastão que lhes seduz

Comendo o apetitosissimo estase da luz

Cujo gozo aos antros e aos templos persuade.

Quem se lembrou no amor do certo e errado?

Para Vênus o correto é viver estes amores,

O errado é temeroso abandonar tais amores

Concedendo a vida motor muito além do esperado.

Não propala a redenção destes céus nosso licor

De sabia volúpia eloquente e apaixonada?

Não engrandecem aos anos a alta aurora sagrada

Intimos júbilos atados,unidos no verdor?

Que julguem os virgens e os amantes decaídos

Sobre os órgãos do lume em pose vulgar

Quais prostitutas, odiando o ato de amar,

Moralizando os seres na fúria dos sentidos.

Que o povo,sectário de um tempo novo,

O amor côa liberdade respeitosa quer casar:

Ovante o templo festivo,preludiando o altar

Da ardente cobra unida ao fogoso polvo.

Pouco importa a dádiva da primavera a lei

Do antigo ancião, que dominara o mundo,

Estase harmonioso,atado-orgiaco e jucundo

Das aves modernas arrebatando a vivaz grei

De amores mundo melhor eis nos revele

Barca de união celebrando em templo livre,

Dossel de talismã exultando o afeto que tive

Desde as raízes ate o firmamento nos constele.

Implementando o elo de irradiante verdade

Nova justiça em humana,renovada aliança!

Jogai a lira,oh menestrel,entrai na dança!

Albergai na flama do momento a eternidade!!