Hífen

Eu sou ambígua:

muito fácil e dificil de alcançar.

Tenho sentido uma vida explosiva

encapsulada pela transição.

Viver presa numa pilula,

como pó do resto da vírgula,

tenta acabar comigo.

Fico tentando furar

as paredes de plástico

com minha unha encravada.

Pra poder escutar histórias,

torcer pelas suas vitórias,

inclinar-me pra capturar

misturas óticas de suas memórias.

Cravando garras em almas

pra ler suas páginas,

sendo todas estrofes

espalhadas por versos

de livros decodificados.

Elas são mais bonitas,

elas tem mais sabedoria,

inteligência desinibida.

Meus pontos correm

pelo sangue que coagula,

transcritos em poesias

percorridas por milhares de milhas.

Talvez seja difícil admitir

que eu esteja tão lotada

de buracos fechados,

que precise de mais

válvulas de escape,

pra drenar as beldades

depositadas nas pontas dos ápices.

Dizem que não vou conseguir,

desconhecendo os traços de barro.

Eu me canso de estar sozinha,

tentando ser adivinha,

mas não conheço outra trilha.

Eu era o nome conhecido

por nenhum dom específico,

a filha de um criador,

criando o que combino

através de palavras de convívio...

Hoje talvez: não passe disso.

Já não fiz muita questão

após dias de trovão.

Troco de sapatos

pra enxergar por outros olhos

com disposição.

É questão de sim ou não,

e o que o tempo me ensinou,

foi sobre me aguentar

num mar de frustração.