SEGUIRÁS MINHAS REGRAS ÀS CEGAS... (O Estado contra o povo)

Descerei o porrete no povo.

Ora, ora... O povo me dá nojo!...

Para mim, desde Atenas,

o povo apenas representa votos

nos quais me assento.

Mas não sou, do povo, devoto.

Pois, via de regra,

o povo se encarrega

de ser para mim

apenas um estoque

ou estopim de contragozo,

um amontoado de estorvo...

Por isso, todo dia de novo,

mandarei meus soldados

(quantos forem preciso)

surrarem ou até atearem fogo

no maldito povo

até que este venha a criar juízo,

obedecendo aos meus avisos...

Ora, ora... Ou o povo

concorda comigo,

ou terá em mim

um severo inimigo,

uma fonte rotineira

de castigo sem fim.

Ou segue minhas regras,

ou do povo não restará

pedra sobre pedra.

Não verá em mim comiseração

ou sinal de qualquer compaixão...

Eu sou o dono do povo.

Não permitirei que ele

se faça de coitado.

Ou segue as regras

por mim determinadas

(de preferência às cegas)

ou será por mim

para sempre açoitado...

Afinal, eu sou o Estado.

Posso me fazer rogado

e não minto:

posso, quando queira,

destratá-lo com acinte,

ou (se preciso) até matá-lo,

com todo tipo de estalo

a fim de que perdure

e sempre tramite

o controle sem fim das elites

que comandam o povo

à medida que,

detendo poder sem medidas,

também mandam em mim...

(Luiz Carlos Flávio)