Harém

Por outro lado, quando quer nos seduzir,

A poesia conhece truques de aliciar cego

Como são fáceis os encaixe de seu lego,

Flerta conosco sensual, como a nos pedir,

E quem pensa fugir do seu “ai se te pego”?

Quem será avesso, pra que lha abandone,

Quando nos sobrevoam inspirados drones,

Prepara-nos tudo, os seus bois e os nomes,

Cruza as pernas fatal, como a Sharon Stone,

olha avassaladora, como a Kate Zeta Jones...

Então, se vem manhosa buscando meu colo,

Não desprezo, antes, vivo essa coisa de aura;

Se me convida é porque despreza o voo solo,

E um poeta omisso seria processado por dolo,

Quando no reino da arte a justiça se instaura...

Sempre corto o pano, mesmo, pretinho básico,

Para que a estrofe nascente nunca desfile nua,

Que ela encontre comigo seu orgasmo extásico,

Mesmo estando num mau dia, pois, sou bifásico,

Inda assim, só a metade que a musa maior, a lua...

Sou viciado assumido nesse meretrício de criar,

Poesia se dá a tantos, quando me quer, me tem;

Pagaria por ela, se requeresse enfim, um pagar,

Mas, se entrega sem ônus, um tanto deve amar,

Sei, sou só mais um, de tantos amantes que tem...

Essa rainha promíscua com seu harém reverso,

Que castra a inspiração se almeja uns eunucos;

Mas, quando quer desfilar na lingerie dos versos,

Recoloca o brilho do desejo em olhares dispersos

Arranca assovios e brados dos amantes malucos...

Poesia sedutora com sua alma dócil, de mulher,

Predica como belo, ao mais desajeitado sujeito,

Se, no sorteio das pétalas cabe o bem me quer,

Então, acena-nos sedutora um mote qualquer,

Presto o vate faz a barba e perfuma seu leito...